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Date
  Saturday 2006-11-11 12:00:00 AM
City
  Belo Horizonte, Brazil
Venue
  Mineirao Stadium
Attendance
  N/A, Capacity: 40,000
 
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Saturday 2006-11-11 12:00:00 AM, Belo Horizonte, Brazil







OrderSongNotes
1Crystal 
2Turn 
3Regret 
4Ceremony 
5Who’s Joe? 
6Transmission 
7Krafty 
8Waiting For The Sirens' Call 
9Your Silent Face 
10Guilt Is A Useless Emotion 
11Bizarre Love Triangle 
12Temptation 
13The Perfect Kiss 
14Blue Monday 
15True FaithEncore
16Love Will Tear Us ApartEncore








From NewOrderOnline.com (Brutal)

Londres é aqui. O estádio vira palco, vira pista. Um festival promovido por uma rádio atrai 40.000 pessoas para instalações improvisadas, para um mix de atrações absurdamente heterogêneo, para uma risível estrutura de apoio.

2. Mas como, então, Londres é aqui? O comportamento inatacável, cordato, ordeiro dos presentes lembra o de outro público, de cenas em preto e branco, chuva e lama, sol e frio, capas impermeáveis e roupas encharcadas, em Finsbury Park.

3. Com todo o enfado possível aguardo a bilheteria, de mim separada por uma fila de dimensões épicas, idêntica àquela da armada francesa batendo em retirada da Rússia, lugar-comum por certo, mas a única comparação que me ocorre.

4. Os artistas revezam-se entre dois palcos, um deles dito de apoio, destinado apenas a criar um lapso para o frenético trabalho dos roadies no outro, o principal. Um ângelus mais tardio, por conta do horário brasileiro de verão, incomparavelmente belo.

5. Quantidades industriais de álcool são consumidas em todas as suas formas conhecidas, ou em insondáveis misturas, cujo único propósito é alterar completamente o estado de consciência o que, pelas expressões, olhares e movimentos, é conseguido com retumbante sucesso. Todos jovens. Muito jovens. Ou com cicatrizes visíveis, envelhecidos precocemente, mas ainda assim, jovens.

6. Mas percebo uma dissonância, traços prosaicos em quem se dispõe a enfrentar uma trip destas. Notas comuns a muitos, tantos, que, de tão iguais, posso simplicar, tratando quem as ostenta, indistintamente, por VOCÊS.

7. Um olhar blasé, um certa dose de fastio e o indefectível “o que estou fazendo aqui?!?”. A noite avança, assim como os rockers-for-teens no palco principal e mais de vocês cruzam meu caminho, absolutamente impertubáveis, como se todas as massas, humana e sonora, sequer os arranhasse.

8. Chego a imaginar tratar-se da maior concentração de “acompanhantes”, “babás” ou “responsáveis” da Terra. Atribuo a ida de vocês àquele festival com o único propósito de garantir a presença e integridade de outrem, mais jovem, imberbe, impúbere.

9. Lêdo engano. Aos primeiros acordes do penúltimo show da noite, dois de vocês postam-se à minha frente, um reclamando da boca seca e taquicardia ao outro, que devolve queixando-se de um suor frio e pressão alta. Noto-os absolutamente sóbrios, tomando refrigerante de cola.

10. Mas, então, os intocáveis tornaram-se repentinamente tocáveis? Sim, pois a movimentação de vocês, é feérica, visível. Junto-me aos até então deslocados para aguardarmos pelo New Order.

11. Dirigindo-se silenciosa e decididamente para a pista, percebo que vários usam camisas diferentes daquelas que a organização (?!?) distribuíra, que se prestaram como ingresso inicialmente; estampas e cores diferem, mas o New Order é sempre o tema.

12. Vocês são discípulos aplicados de Sun Tzu. Ardilosamente vão abrindo espaço, tomando o território da frente do palco do domínio da tribo lá instalada. Cirurgicamente, os já extenuados fãs da banda até agora em ação são empurrados ou à direita ou para o fundo. A remoção é inapelável e imperceptível, uma blitzkrieg sem qualquer planejamento formal, mas belicosamente eficaz.

13. O lead vocal ruge e, no meio de vocês, imagino que guardam, cada um, a sua e a posição de mais alguém, comportamento solidário que entendo ao perceber o aumento exponencial da horda a cada uma de minhas avaliações. Vocês tiraram os outros dali. Só há vocês. E eu. Está feito.

14. O show termina. Um silêncio quase sagrado se impõe, sem combinação prévia. O ruído de fundo dos outros 38.000 presentes parece receber loudness frente ao mutismo, no máximo, aos sussuros de vocês. Alguns chegam, tratando os que lá já estão pelos nomes, no que são correspondidos. Uma curiosa intimidade!

15. E vem uma chuva. Congelante, como todas as que pontuam os “invernicos” de meio de primavera; e um vento lancinante, frio, por certo cortesia do espelho d´água da imensa lagoa ali de perto. Os dois primeiros que identifiquei agora envergam capas azuis. As placas do tablado rangem, pressionadas contra o gramado.

16. Vocês todos se acomodaram. Sinto que imersos num confortável estado comatoso, absortos, apreensivos. LeBleu1, um sujeito grande e corpulento comenta com LeBleu2 ainda não acreditar, que se manterá reticente até os primeiros acordes, o que recebe a silenciosa concordância do outro de azul.

17. A espera congela os ossos. O frio é siberiano. O coma se apodera de todos. Minha curiosidade aumenta junto com a dor fina que, posso apostar, se instala no estômago de vocês. Uma onda de calor sobe do solo de madeira, para dentro de nossas capas. E 11/11 vai ficando para trás ...

18. Então alguém solta um grito primal, inumano, “Neeeeew Ooooorder”. Eletricidade estática, combustão instantânea. Vozes muito graves em uníssono. Arrepiante. Pulos, quase histeria. Hunos a chamarem outros. Os impávidos de há pouco são agora guerreiros maias à espera de um ritual de sacrifício em uma noite sem lua. Pandemônio definitivamente instalado.

19. E quatro senhores irrompem pelo palco, como generais a atender a saudação de sua infantaria, antes de uma batalha que se desenha renhida. Silêncio. E vejo bocas se abrirem, lábios secarem até rachar. LeBleu1, pude ouvir, é tomado por um fervor religioso, e nomes como “Deus”, “Jesus Cristo”, “Nossa Senhora”, mesclados a repetidos “Obrigado”, “Graças”, e muitos, mas muitos impropérios, são ardentente articulados: a voz era o canal, seu corpo emanando uma emoção indescritível, visceral. Incrédulo mesmo com os four-mem-in-black no palco, LeBleu1 ensaia um “Não posso acreditar” que não chega a ser concluído.

20. Bernard Summer saúda Belo Horizonte com simpatia e pouquíssimo sotaque. E tome “Crystal” para uma já ensandecida audiência; antes de “Turn”, o vocalista reforça minha tese inicial, referindo-se à semelhança daquela noite com outras tantas de sua terra natal. “Cheers”!

21. “Regret”, Bernard reclama do microfone, “Ceremony”, Bernard reclama do microfone, “Who´s is Joe”, ele pensa em reclamar, mas deixa prá lá ... “Cheers”!

22. Peter Hook, encurvado sobre o baixo, com movimentos que desafiam Newton, se posta frente ao palco e, se bem entendi, oferece “Transmission” a alguém com capa azul, certamente LeBleu1, que repetira o pedido a plenos pulmões. O coitado deve ter captado a mesma mensagem, pois, lívido, não caiu por absoluta falta de espaço, e passou a pular como se acometido por um ataque epilético, só que de pé!

23. “Krafty”, Bernard pede mais retorno, quem sabe para conferir seu próprio vocal pré-gravado, “Waiting for the siren´s call”, a platéia ameça o câmera e seu cabo-man, “Your silent face”, Hook ameça dormitar, “Guilt is a useless emotion”, eu acho que verei o linchamento da dupla da TV ... “Cheers”!

24. Em “Bizarre love triangle”, Bernard chama alguém, um “New Robert” como o apelidaram, da banda Manitu (?!?) para uma jam-session. Phil Cunningham deve ter adorado, denunciado por um risinho irônico durante toda a perfomance (?!?) do convidado.

25. Terminada “Temptation”, já me dava por satisfeito, deduzindo que a apresentação acabara ali. Mas “The perfect kiss” pode me mostrar o trabalho braçal, sem trocadilho, de Stephen, com coordenação e técnicas incomparáveis.

26. Morris, o que tomou os teclados na última música, uma garra sônica intitulada “Blue Monday”. Hook espanca o ton-ton, Bernard visivelmente emocionado, Phil ainda sem perceber a dimensão da lenda New Order.

27. Retiraram-se ovacionados. Certa do bis, a turba cerra fileiras novamente contra a equipe de TV. Alguém diz saber onde os pobres homens moram, outro decreta que as famílias dos profissionais é que pagarão, muitos querem “pegar lá fora” a dupla cabo-man/câmera man. Não sei se por conta das “promessas”, mas os dois finalmente deixam a todos em paz, liberando o nosso já excepcional campo de visão.

28. Nova entrada. E uma execução primorosa de “True faith”, idêntica àquela de “In session”, só que com uma audiência mesmerizada cantando junto. “Love will ter us apart” e descubro a mais bela canção de amor de todos os tempos, a elegia nunca escrita por Blake. E tão triste quanto esta obra-prima, é constatar o fim do show, com as reverências dos four-mem-in-black ao seu séquito. Lágrimas, punhos cerrados, mãos ao céu pavimentado, desconhecidos abraçando-se qual amigos de infância ...

29. Na corte em que reina o New Order, vi súditos os mais diferentes. Mineiros e baianos. Cariocas e paulistas. Fumantes de Gitanes/Zippo e Derby/Bic. Tomando JW Black Label e Old Eight. De Von Dutch e com gorros ordinários. Homos e héteros. Pretos e brancos. Mulatos e amarelos. Fluentes em inglês e em “embromation”. Do neworderonline.com e do hojeemdia.com.br. Íntimos de Peter (“Hookie Monster”) e do filho deste (“MSN”). Que fariam toda a turnê, o circuito Brasília/Belo Horizonte/São Paulo/Rio/Buenos Aires e que nunca mais teriam outra oportunidade como aquela. É, “Os júbilos fecundam, mas as tristezas geram.”.

30. O New Order enigmático, cerebral, sério, melancólico, ambicioso, sombrio é fonte de uma música hipnótica, suave, moderna, elegante, sincera, inconfundível! “A cisterna contém; a fonte derrama!”.

31. A banda talvez nunca imagine o bem que fez a este lugar, a esta gente, mas importante mesmo é que, de algum modo, tivesse ciência do quanto uma sua nova presença aqui já é aguardada. Bis, New Order, Bis!

32. Aturdido, confesso que não dormi aquela noite. Algo para um cara absolutamente comum, que vai assistir um concurso de miss e simplesmente “ganha” a vencedora do tal certame, sair de lá com ela para uma noitada. A madrugada prestou-se a permitir um tempo para que mensagens subliminares em músicas tantas vezes ouvidas, fossem descortinadas; que conceitos fossem finalmente absorvidos, que a magia fosse vivida, para revelações.

33. Se para amar de verdade, é imperioso compartilhar, daqui por diante não há mais VOCÊS.

34. Há NÓS.

35. Inesquecível.


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